out 25, 2020

Repetimos a herança que nos deixaram

Repetimos incansavelmente a herança psíquica que nos deixaram

Só na relação íntima com o outro podemos realmente ver com que tijolos a nossa casa foi feita.

A casa interiorizada em criança, a casa que trazemos dentro de nós, onde mora a nossa criança interior, a casa dos nossos pais ou onde crescemos.

O enxoval não são os lençóis e louças mas sim os primeiros padrões criados na relação com os nossos pais ou com quem assumiu a figura parental na nossa infância.

A relação íntima é o lugar por excelência onde as imagens parentais internalizadas, as crenças familiares, as dores, os vazios, os medos, as inseguranças, os não ditos e os sonhos são projetados.

É precisamente na relação de amor a dois, que recria a primeira relação de amor que a verdade de cada um emerge, a verdade que não se controla.

Não o que se diz e promete no encantamento do primeiro olhar, não o que se quer mostrar, os planos bonitos e romantizados do primeiro momento.

Mas o que de mais fundo habita a psique inconsciente, e que inevitavelmente, na relação amorosa se projeta para o outro, para a relação. É um movimento interno muito intenso e profundo, que põe em movimento o que está depositado no mais fundo de cada um e pede para ser curado, ressignificado, completo, expresso, sentido, acolhido…

Por isso o amor a dois é das relações mais complexas e desafiantes de manter, e simultaneamente das que proporciona mais desenvolvimento pessoal, expansão e extase.

A relação conjugal cria as condições ideais para o encontro com a sombra de cada um, e é precisamente aí que começa o verdadeiro conhecimento de nós mesmos. Não mais a idealização, a fachada, mas quando tudo isso começa a ruír e o núcleo pode finalmente começar a ser visto, ouvido e amado.

É precisamente aí que muitas das relações terminam.

»»» Precisamente porque muitas vezes o foco está em

– ter sexo perfeito e não tanto autêntica intimidade emocional,

– purpurinas e show-off e não tanto crescimento pessoal a dois,

– esperar o príncipe encantado e a deusa para resolver o meu vazio esistêncial,

– o outro vem preencher e compensar as minhas carências e dores emocionais em vez de eu curar-me a mim mesmo através do espelho que o outro se torna de mim mesmo,

– a relação está mais ao serviço da doença e do ego do que da cura e evolução de cada um,

– usar o outro e ser usado em vez de me amar, curar na presença do outro que se ama e cura a si,

– acreditar que com este/a vai ser diferente sem ter mudado nada dentro, nem ter feito qualquer trabalho pessoal/psicoterapeutico,

Repetimos incansavelmente até começarmos verdadeiramente a mudar. De dentro para fora.

Tomando conta da nossa criança.
Sendo responsáveis pela nossa vida e felicidade.
Olhando para dentro quando o outro mostra algo que não gostamos.
Ficando. Connosco na presença do outro.

Há caminho mais difícil? Provavelmente não.
Há caminho mais belo? Provavelmente não.

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